segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

América do Sul descobriu 100 bilhões de barris de petróleo na última década


Além do Brasil, Argentina, Colômbia, Paraguai e Uruguai descobriram novas reservas; desafio é exploração.


17 de dezembro de 2012 | 7h 18
 
Na última década, foram descobertas reservas estimadas em cerca de 100 bilhões de barris de petróleo na América do Sul, levando especialistas a acreditar que a região pode se tornar autossuficiente no setor.


O dado é do diretor executivo da Associação Latino-Americana de Integração Petroleira (ALIP), o engenheiro de petróleo Nicolás Honorato.
A ALIP foi criada em 2009 para atender à crescente demanda de profissionais do ramo e para a troca de informações sobre o uso de tecnologia com o aumento das descobertas de petróleo na região.

"Quase todos os dias são anunciadas descobertas de petróleo na América Latina. E a América do Sul vive um momento histórico, porque além das descobertas convencionais surgiram o pré-sal, no Brasil, o gás de xisto, na Argentina, e o aumento impressionante de descobertas e produção de petróleo (convencional) na Colômbia", disse Honorato à BBC Brasil.

O grosso das novas reservas, 80%, vem do pré-sal brasileiro. Os restantes 20% estão nos subterrâneos de países como Colômbia, Argentina, Bolívia, Equador, Uruguai e Paraguai.

Autossuficiência

Na avaliação de Honorato, tais descobertas poderiam levar a região perto de se tornar autossuficiente.

Tal opinião é compartilhada pelo ex-secretário de Energia da Argentina, Daniel Montamat, e o ex-vice-ministro da Bolívia, Carlos Alberto López.

Além das descobertas de novos campos, eles também creditaram a previsão otimista à estabilidade econômica e política da região, apesar de anúncios recentes de nacionalização de empresas estrangeiras, como foi o caso da YPF, controlada pela espanhola Repsol, na Argentina.

Segundo Honorato, prova do potencial da região é o interesse recente demonstrado pelas empresas estrangeiras.

Para o especialista, muitas delas têm mirado a América do Sul já que a produção em outras regiões do planeta, como no Mar do Norte, está em queda.

"Todos os olhares do mundo petroleiro estão voltados para a América do Sul e para a América Latina em geral por ser uma das regiões que mais tem anunciado a descoberta de reservas estimadas de petróleo", destaca.

Para Honorato, grande parte do sucesso da região poderá vir do Brasil.

Segundo ele, caso as reservas do pré-sal brasileiro - estimadas por ele em 80 bilhões de barris de petróleo e pelo governo brasileiro entre 70 a 100 bilhões de barris - sejam realmente confirmadas, o Brasil passaria a ser o sexto país com as maiores reservas da matéria-prima no mundo, atrás de alguns países do Oriente Médio e da Venezuela.

Atualmente, o Brasil tem reservas estimadas em aproximadamente 13 bilhões de barris, de acordo com a agência de energia dos Estados Unidos (EIA, na sigla em inglês), e ocupa a 14ª posição mundial.

Tecnologia

Para López, da Bolívia, o segredo da exploração do ouro negro está no uso da tecnologia cada vez mais avançada.

"A aplicação de novas técnicas e condições geopolíticas nos permitem dizer que ser uma região autossuficiente já não é mais apenas um desejo. Só não sabemos quando ocorrerá", afirmou.

Montamat concorda e diz acreditar que a tecnologia será "decisiva" para que a região passe a ser uma potência petroleira.

"A região como conjunto não é potência de petróleo e de gás porque as reservas ainda precisam ser desenvolvidas", explica.

"Mas a Venezuela, por exemplo, por si só, já tem mais reservas provadas do que a Arábia Saudita", acrescenta.

Dados de 2011 da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) indicam que a Venezuela possui reservas estimadas em 297,5 bilhões de barris, enquanto as da Arábia Saudita alcançariam 265,4 bilhões de barris.

Recentemente, lembraram os especialistas, Uruguai e Paraguai também anunciaram ter encontrado petróleo em seus territórios, apesar de o quadro ser ainda embrionário.

Estabilidade

Honorato também lembrou que a estabilidade política e econômica conquistada pela América do Sul nos últimos anos ajudou a atrair o interesse de empresas estrangeiras do ramo do petróleo e gás.

"Empresas, principalmente, da Europa e do Canadá estão se orientando para a América do Sul e este movimento começou antes do pré-sal", disse.

Apesar de ter mencionado o atraso nos leilões do pós-sal e do pré-sal no Brasil, Honorato afirmou que a situação hoje na região é muito mais favorável ao capital estrangeiro do que antigamente.

Um dos exemplos, segundo ele, foi a Lei do Petróleo no Brasil, que acabou com o monopólio da Petrobras e, assim, permitiu a exploração de campos por empresas estrangeiras.

Honorato mencionou também que, em 2005, a Colômbia mudou seu marco regulatório, despertando uma espécie de "corrida ao ouro negro" do país.

A expectativa é de que o país deixe de ser importador e passe a ser exportador de petróleo e, assim, como ocorre com a Venezuela e o Brasil, passe a desfrutar as maiores receitas geradas pelo combustível.

Segundo ele, o Equador também mudou seu marco regulatório e aumentou a chegada de investimentos no setor petroleiro.

Já o Peru, na sua avaliação, é um país que "ainda não decolou" e registra uma produção abaixo dos 50 mil barris diários. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

ROYALTIES DO PETRÓLEO,

Análise: Presidente não quer ficar mal com nenhum dos dois lados
 
VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA
 
Na briga dos royalties, a presidente Dilma não quer ficar mal com nenhum dos dois lados, Estados produtores e não produtores de petIEAróleo. Por sinal, seu objetivo é tentar atrair todos para o seu lado, na busca de reanimar a fraca economia.
Não por outro motivo ela deu um passo mais concreto, nesta semana, na direção de atender antigo pedido dos governadores. Sua equipe prometeu baixar uma medida provisória trocando o indexador das dívidas estaduais.
Rio espera que Fux impeça a derrubada do veto de Dilma
A iniciativa dará mais gás aos Estados, que terão mais recursos em caixa com a troca do IGP pela taxa Selic na correção de suas dívidas.
Algo considerado positivo e necessário pela equipe do Palácio do Planalto na busca de atacar um dos pontos fracos da economia neste ano, os investimentos.
Daí que Dilma não deseja comprar briga de ninguém e sabe que só tem a perder se optar por um dos lados na disputa pela distribuição dos royalties de campos de petróleo já licitados.
Tanto que decidiu "lavar as mãos" e deixar com o Congresso a definição sobre a polêmica que coloca a maioria dos Estados contra o Rio e o Espírito Santo, os principais produtores de petróleo.
O Palácio do Planalto fez questão de chegar aos demais governadores que havia tomado uma decisão técnica, mas que não faria nada para manter seu veto.
Resultado: o processo cairá na judicialização, com o Rio e o Espírito Santo recorrendo ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso o veto seja mesmo derrubado pelo Congresso. Aí, segundo o governo, os dois Estados devem ganhar a parada.
Enquanto isso, o governo conseguiu tirar do Congresso o que queria. Aprovar, no mesmo projeto, o que faltava no novo modelo de partilha de produção a ser usado na exploração dos campos de petróleo do pré-sal --a alíquota de 15% dos royalties.
Era o que faltava para fazer o primeiro leilão de áreas do pré-sal pelo novo sistema, agendado e, por enquanto, mantido para novembro do próximo ano.